quinta-feira, 8 de maio de 2008

Novos paradigmas produtivos e as mudanças no perfil do trabalhador - PARTE I


Neste início do século XXI, o Brasil encontra-se diante de um mercado inter(trans)nacionalizado. Muitas mudanças estruturais e conjunturais são necessárias para adequar a produção para esse novo contexto. As mudanças se tornam cada vez mais velozes e atingem não apenas o setor secundário (a indústria), mas também os setores primário e terciário da economia brasileira (MENEGASSO, 1998). No setor primário, surgem novas empresas agrícolas, muitas vezes de capital estrangeiro ou parte de um holding. No terciário, antigos estabelecimentos comerciais aperfeiçoam seus serviços e oferecem outras opções aos seus clientes. A antiga farmácia de bairro torna-se uma drugstore, algo parecido com um mini-mercado. Mais e mais shopping centers são inaugurados em diferentes regiões do país. Enfim, o panorama produtivo atual é bastante diferente daquele que encontrávamos no Brasil há vinte ou trinta anos atrás.

A alta velocidade das mudanças cria dificuldades para que as pessoas e a rede social que as integra consigam processá-las e adaptar-se a elas. O ritmo das mudanças e os efeitos do avanço tecnológico sobre a reestruturação produtiva cresceram exponencialmente nas últimas décadas, tornando o ritmo altamente acelerado e os efeitos praticamente imprevisíveis (WERTHEIN, 1999). Essas transformações não se limitam somente ao âmbito das rotinas e procedimentos inerentes às ocupações (PRADO FILHO, 2003), mas se desdobram em novas configurações no imaginário popular e na divisão de poder e status, bem como no acréscimo ou redução de oportunidades no mercado de trabalho. As exigências de mercado mudaram com as inovações tecnológicas, econômicas e sociais dos novos tempos, demandando um perfil diferente das profissões e dos trabalhadores (ILO, 2002). O século XXI aprofunda mudanças das últimas décadas do século XX. Os espaços profissionais, antes bastante delimitados, passam por uma revisão profunda que foge totalmente ao mapeamento tradicional (PRADO FILHO, 2003), levando à construção de novas formas de carreiras (SCHEIN, 1996).

As mudanças no modo de produção, nos mercados e nas tecnologias nos últimos cem anos foram certamente incríveis, entretanto, seguiram um direcionamento já estabelecido no início do século XX. A globalização ocorreu, fundamentalmente, pelo desenvolvimento das tecnologias de informação, comunicação, transporte e produção em função da microeletrônica e do aumento da automação, bem como pelo cenário social, político e econômico nos últimos trinta anos (LISBOA, 2002; LASSANCE; SPARTA, 2003). Scholte (2000, citado por SHAW, 2001) conceitua a globalização como o conjunto de transformações nas esferas social, política e econômica das últimas décadas cujos desdobramentos na geografia social são marcados pelo crescimento dos espaços supra territoriais. As principais conseqüências desse início de momento pós-industrial do capitalismo são a integração e a interdependência política e econômica cada vez maior entre os países, regiões e continentes.

Acontecimentos no outro lado do mundo podem ser acompanhados online e em tempo real. A economia globalizada permite novos avanços culturais, sociais e tecnológicos. Vemos hoje um mundo globalizado e repleto de interdependências, cuja sociedade da informação já foi superada pela sociedade do conhecimento. Nesse novo contexto do qual o adolescente é sujeito ativo, os meios de telecomunicação transmitem informação ao redor do planeta, divulgando o capitalismo e seus produtos. Com isso, percebemos mudanças de valores, nos laços sociais e nos modos de subjetivação (GAREGA, 2004; COHENDOZ, 1999).

A globalização trouxe consigo mudanças tecnológicas e no mercado financeiro, a emergência do mercado internacionalizado, competição internacional, novas estratégias de negócios e novas formas de racionalizar a produção através de novas práticas de gestão, e o aumento de investimento estrangeiro direto nos mercados nacionais. É prudente observar as mudanças com um olhar crítico, já que oferecem aos trabalhadores, organizações e países tanto oportunidades quanto desafios para os quais devem se adaptar.

WERTHEIN (1999) destaca três mudanças principais no setor produtivo: reestruturação produtiva e substituição do modelo fordista-taylorista por novos desenhos conceituais e operacionais e processos produtivos mais sistêmicos e integrados. A estrutura hierárquica das organizações torna-se mais planas, agregando a participação de todos os trabalhadores, gerindo e distribuindo a inteligência com as TICs (Tecnologias de comunicação e informação); necessidade de elevação continua da qualidade dos produtos e serviços devido à alta competitividade; maior demanda pela capacidade de adaptação a mercados em constante mutação.

As vantagens comparativas tradicionais entre países, tais como tamanho geográfico, abundância de matéria prima e recursos naturais, mão-de-obra abundante e barata, cedem lugar às vantagens comparativas estratégicas – o capital intelectual, a capacidade de processamento da informação e as telecomunicações (na forma de TICs) – aplicados às atividades humanas. Em alguns casos, os recursos naturais tornaram-se uma verdadeira “maldição” e sua má utilização a favor do crescimento chegou até a atrapalhar o desenvolvimento de países em momentos específicos (STIGLITZ, 2004).

No final do século passado e início do século XXI, as organizações brasileiras enfrentaram e ainda se deparam com um novo contexto caracterizado pela inovação tecnológica, pelos novos paradigmas de gestão, pelas mudanças profundas no campo da informação e do conhecimento e da emergente demanda por uma educação voltada para qualificar o trabalhador para o mercado de trabalho em transformação. Como o Brasil abriu suas portas recentemente para o mercado internacionalizado, muitas mudanças estruturais e conjunturais são necessárias para a adequação de nossa produção para o contexto que agora se apresenta.

Pela pluralidade de “economias” vigentes no país (SODRÉ, 1980; FREITAG, 1985), o Brasil encontra dificuldades para o ingresso nos novos espaços sócio-político e econômico da geografia globalizada. Nosso capitalismo avança devagar, aproveitando as brechas encontradas para avanços mais rápidos. Como efeito da globalização e, sobretudo, da introdução de novas TICs (tecnologias de comunicação e informação), BERGAMINI (1998) lembra que o redesenho das organizações impôs a eliminação de um grande número de cargos para aumentar as condições de produção, senão de sobrevivência das organizações. Na tentativa de se adaptar ou mesmo sobreviver num cenário tão instável, um novo perfil profissional e organizacional surge (MAROCHI, 2002). Os novos modelos desenvolvidos pela administração científica do trabalho (toyotista e volvista) buscam um paradigma mais sistêmico e integrado para entender as organizações no cenário atual – mais competitivo, complexo, flexível, ao qual autocontrole, capacidade de aprendizagem e autogestão e criatividade do trabalhador são características cruciais.

O ritmo das mudanças e os efeitos do avanço tecnológico sobre a reestruturação produtiva cresceram exponencialmente nas últimas décadas. O ciclo de mudança que levava até trinta anos para acontecer, hoje se dá em pouco mais de seis meses. As mudanças são bastante visíveis e ocorrem também nos ambientes de trabalho (MENEGASSO, 1998). Assim, as mudanças no mundo do trabalho exigem transformações no sistema de ensino, na política, na economia e no paradigma de gestão das organizações. As exigências do mercado de trabalho de capacidade para ser criativo, para lidar o com o novo, o inesperado, o imprevisível, para trabalhar em equipes e se atualizar constantemente, para julgar, discernir, intervir propor soluções e resolver problemas, vão de encontro à atual realidade educacional e administrativa brasileira. Isso exige uma mudança radical e definitiva com o paradigma predominante historicamente nas organizações de nosso país.

O capitalismo contemporâneo imprimiu profundas mudanças estruturais e culturais nas últimas décadas. Com a abertura da economia brasileira conduzida no começo da década de 1990 nos governos de Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, as organizações brasileiras não estavam preparadas para o ambiente competitivo internacional e a invasão de produtos importados com preços competitivos. As empresas precisaram se adequar à nova realidade que demandou novas formas de gestão e melhor qualificação do trabalhador, entre outros aspectos.

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