sexta-feira, 2 de maio de 2008

Amizade e novas arquiteturas para os relacionamentos no século XXI


Hoje vou conversar com vocês sobre a amizade. Termo conhecido de todos, a amizade agrega (e congrega) pessoas das mais variadas estirpes. Eu como cientista dos relacionamentos interpessoais, tenho uma visão diferenciada dos relacionamentos. O dito popular diz que "os opostos se atraem" e "dize-me com quem andas e te direi quem és". Talvez o último nos direcione por caminhos mais afins com a realidade de nossos relacionamentos. Entretanto, cotidianamente (creio que por uma questão de comodidade) muitos reduzem a essência deve pensamento.

A sociedade tem passado por mudanças radicais desde o início da Revolução Industrial. A migração do meio rural para as cidades, a aglomeração da gente nas metrópoles e a procura por melhores condiçõees de vida e trabalho imprimem na sociedade uma nova arquitetura que aponta cada vez mais na contemporaneidade novas formas de nos relacionarmos com aqueles que nos cercam.

A necessidade de procurar por cenários mais favoráveis para viver, seja por motivos de trabalho ou outros, nos leva, às vezes, para longe de nossas famílias. Essa separação da família estimulada pela "meritocracia" moderna quebra o status da hierarquia familiar tradicional, mudando as responsabilidades frente à família para ir ao encontro da necessidade de preparação para o mercado de trabalho. Aí observamos uma migração de uma perspectiva mais coletivista ou familiar para uma perspectiva individualista fomentada pelo sistema capitalista. A famíia pode passar, assim, a um papel secundário em favorecimento da escolha pessoal e do desenvolvimento individual.

Por uma ciência dos relacionamentos interpessoais
Os estudos dos relacionamentos interpessoais abarcam hoje uma gama de abordagens teóricas muito ricas, relacionadas a diversas ciências que convergem de forma transdisciplinar para compreender esse fenômenos sociais. Quero reafirmar perante vocês minha simpatia pela viés adotado por Robert Hinde, cientista que dedicou sua vida à construção de uma ciência do relacionamento interpessoal. Hinde refere-se a uma rede de fatores que se correlacionam num sistema com múltiplos níveis, incluindo também a estrutura sócio-cultural e os fatores ambientais. Todos estes níveis afetam-se mutuamente de forma dialética. Esse autor ainda destaca a importância de se partir de uma ampla base descritiva para o estudo dos relacionamentos tendo como alvo a busca de princípios subjacentes aos aspectos observados.

Quem são nossos amigos?
As amizades sofrem a influência de diversos fatores desde o ambiente físico até a estrutura sócio-cultural. Viver em uma sociedade altamente urbanizada leva à necessidade de novos tipos de relacionamentos. Durante a adolescência, a intimidade, provida anteriormente pela família, passa cada vez mais a ser complementada pelos pares e amigos. Os amigos são, geralmente, aqueles com os quais compartilhamos certas similaridades, inclusive idade, gênero, etnia, religião, nível sócio-econômico-cultural e atividades. Essa similaridade é maior entre amigos mútuos do que entre amigos unilaterais (quando um dos indivíduos não considera o par como amigo reciprocamente) ou não amigos. Apesar de a amizade ser considerada um relacionamento voluntário, ela não deixa de fazer parte de um contexto social e cultural. As amizades não se baseiam em parentesco ou consangüineidade e o compromisso estabelecido entre as partes está enraizado na confiança, na lealdade, em atividades compartilhadas, em companheirismo e na interdependência de ambas as partes.

Além de a amizade ser social e historicamente contextualizada, ela possui algumas características fundamentais que podem ser encontradas em diferentes contextos sociais e culturais: a amizade é diádica, pessoal, informal e mútua, sustenta-se em emoção positiva, consideração, voluntariedade, apego e ausência de sexualidade exacerbada. Amigos tendem a se esforçar para providenciar apoio quando necessário. Segundo Hinde, os amigos afirmam reciprocamente suas identidades e as expectativas de confiança e de apoio são centrais nessa forma de relacionamento. Podemos listar algumas necessidades geralmente supridas por amigos: auxiliar a pessoa na manutenção de uma auto-imagem valorizada e de competência; expressar e reconhecer os atributos mais importantes do amigo; estimular a auto-elaboração positiva; ser confiável e confiante; e, cooperar e dar apoio no que se refere às necessidades cotidianas. A amizade ainda inclui auto-revelação, confiança e reciprocidade. Atividades e interações em grupo influenciam a díade e vice-versa. Além disso, as pessoas tendem a ter amizades com aqueles que lhes são similares em idade, gênero, grupo étnico, atributos físicos e preferências por atividades profissionais e recreacionais.

Amigos de fé, irmãos, camaradas
Ontem descobri duas edições de Vida Simples (outubro e novembro de 2005). Ambas com reportagens sobre amizade. E lendo esses textos na manhã de hoje me fizeram lembrar de vários queridos amigos que tenho guardados no meu coração. Amigos queridos apesar das distâncias, amigos apesar de algumas diferenças; amigos vêm e vão. Amigos porque gostamos um do outro e queremos ser amigos. A amizade é voluntária. Diante de nossos amigos podemos ser quem realmente somos e sermos compreendidos. Ter amigos faz bem para a saúde, para o coração e para a alma. Sem vocês meus queridos amigos, seria um ninguém. Obrigado por tudo que fizeram e fazem por mim. Obrigado por compartilharmos momentos memoráveis, confidências inenarráveis e emoções inexplicáveis.


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