quarta-feira, 7 de maio de 2008

Novas perspectivas: globalização e política

Lendo a reportagem da revista Época sobre a China e novas configurações políticas na tarde de hoje, me lembrei que nesse ano no qual os jogos olímpicos e a turnê da tocha que roda o mundo viraram manchete também é um ano que pode significar muito mais do que imaginamos. Mais uma vez uma jovem superpotência (antigo império e jovem em seu poder capitalista) sediará os jogos que representam a união dos povos. Alguém aí se lembra de algo parecida ter acontecido anteriormente? Pois é... Eu me lembrei de uma coincidência que espero ser mera semelhança.

Em 1936, a Alemanha sob comando do Führer nazista também teve a oportunidade de se mostrar ao mundo. Calma, não quero colocar os chineses na mesma gaveta que o execrável nacional socialismo alemão. Na verdade, quero separar o joio do trigo no que tange repercussões vindouras na política internacional e refletir o que pode nos aguardar dentro em breve.

A Alemanha foi um país nascido do esforço de alguns bem intencionados pensadores que resolveram unir reinos antes separados. Para tanto, costuraram politicamente uma república, cortaram terras com um sistema logístico de dar inveja e investiram pesado em educação. Outros países asiáticos também fizeram semelhante investida no período pós II Guerra e atualmente colhem frutos maduros de tais ações, como os casos de Japão, Coréia do Sul e da tardia China. Bem... dizem que antes tarde do que nunca!

Depois de passarem pela Revolução Cultural lidera por Mao Tsé-tung que varreu do mapa intelectuais, fábricas e escolas, a população chinesa viu seus líderes se esforçarem para escrever nas páginas da História algo que fosse próprio desse imenso e diversificado país. Hoje, 32 anos após a morte do mentor de uma reviravolta fundamentalista dentro do maior país comunista, a China se apresenta como uma nação dividida entre dois mundos. Seu crescimento exponencial nas três últimas décadas levou a uma parte da população tecnologias e qualidade de vida sem igual. Parte dos chineses saíram de um estilo de vida medieval para o das grandes metrópoles em um curtíssimo espaço de tempo. A mudança nos padrões de vida chega a alarmantes 10.000 % segundo reportagem desta semana publicada em Época e anteriormente em Newsweek. Diante disso, milhões de chineses experienciam ao longo de sua vida avanços que supostamente levariam algumas gerações para serem absorvidas de forma saudável por um povo.

O que será do mundo diante deste novo cenário geopolítico?
Geralmente (palavra que aprendi logo que comecei a trabalhar na World Study), quando uma nova potência surge, a que antes estava no poder sente-se ferida e parte para o ataque. O interessante é que atualmente a crise do subprime atingiu o flanco dos EUA e ainda não temos certeza das conseqüências disto somado à queda do dólar frente várias moedas e à alta do petróleo. Previsões afirmam que o dólar deve fechar o ano em torno de R$ 1,20 e o barril de petróleo será negociado na virada de 2009 para 2010 em US$ 200. Os EUA já não estão tão fortes como alguns anos atrás e a China ainda não sabe o que fazer diante da situação de abertura dos mercados e controle ditatorial severo da circulação de informações e da governança de sua imensa população.

Os governantes chineses parecem estar atentos à necessidade de se integrar à conjuntura mundial ao invés de ir contra a maré. Por um lado, cria institutos de ensino de mandarim e cultura chinesa mundo afora; por outro, inclui no currículo escolar aulas de inglês para alunos de todos os níveis. No ano passado, o governo chinês lançou um documentário dividido em 12 episódios sobre A ascensão das Grandes Nações, no qual deixava claro que o imperialismo não é a saída correta mas sim a conquista a longo prazo a partir do fluxo dos mercados.

Os jogos olímpicos deste ano serão importantíssimos porque nos mostrarão como a potência asiática irá lidar com milhares de atletas em seu território, possíveis boicotes diplomáticos na cerimônia de abertura dos jogos e protestos sobre a questão tibetana. A forma como o Partido Comunista chinês vai gerenciar seus problemas domésticos nos a partir de agosto até o final desta década revelará qual o posicionamento desse gigante frente a um inevitável conflito. Até quando o controle será possível e como fazer uma transição pacífica? Eis a million dollars question.

Cavalos não são zebras...
Nos anos 1980 e 1990, se você listasse maravilhas do mundo moderno, milionários, empresas de sucesso e artistas com vendagem extraordinária, a maioria dos apontados ou seriam americanos ou morariam nos EUA. Hoje o cenário é bem diferente. Países emergentes possuem empresas que se destacam mundialmente (Inbev, Tata, ArcelorMittal, Petrobras, entre tantas outras), acolhem milionários que ganham com a economia globalizada e inovam em suas áreas de atuação. O domínio norte-americano, só comparável no mundo ocidental ao império romano, manteve nos últimos 20 anos incontestável e inabalável dianteira. Contudo, essa soberania global é dia-a-dia contestada. Apesar da unipolaridade política e militar com o fim da guerra fria, outros aspectos – tais como industrial, financeiro, social e cultural – revelam diferentes tipos de capitais mudando de mãos.

Analistas americanos já começaram a falar numa era “pós-EUA”. O país que na última década perdeu posições em várias listas de top 10 (você pode escolher a categoria!) já não fascina a população média de suas antigas áreas de influência. O aumento do poder político das nações, economias aquecidas em países em desenvolvimento, melhoria no poder de compra e acesso a serviços e produtos a grupos de média e baixa renda fizeram com que as pessoas voltassem mais sua atenção para questões regionais bem como para as globais. A globalização, também, produziu um movimento contrário aos produtos massificados que distribuiu num primeiro momento. Tais produtos foram absorvidos e adaptados ao gosto local. Em contrapartida, movimentos de reafirmação cultural reforçaram aspectos da identidade cultural local, num esforço de manter coesa a identidade dessas pessoas.

E eu com isso!?
Bem, o mundo já não é mais o mesmo lugar de antes. O mercado de trabalho local cedeu espaço a um que abrange qualquer profissional que tenha a qualificação necessária e que cobre menos pela mesma atividade. O dinheiro que financia a produção troca de mãos na medida da velocidade dos processadores de nossos computadores, ou seja, acelera exponencialmente de tempos em tempos.

Se nosso país não investir em políticas educacionais pertinentes, logo teremos parte de nossa população defasada na disputa por trabalho num mundo globalizado. Entretanto, nosso governo ainda parece viver da colonial exportação de commodities ao invés de investir no desenvolvimento de capital intelectual e exportação de tecnologia e serviços com alto valor agregado.

E o que eu posso fazer a respeito disso, Fábio? Se você quiser realmente estar por cima enquanto o barco navega pelo mundo, procure se preparar através de qualificação pertinente a sua área de atuação e estar disposto a se atualizar constantemente. AH!... Não é necessário aprender mandarim desesperadoramente por agora. Aprenda a falar bem sua língua pátria, o bom e velho português; se quiser, invista numa segunda língua, o que pode variar de acordo com sua área de atuação. Espere mais um pouco; talvez, daqui uns 10 anos valha a pena estudar mandarim. Caso você já domine duas línguas e trabalhe diretamente com o mercado chinês, aí sim pode estudar mandarim a vontade. Mas lembre-se, experiência no currículo vale mais do que cursos.

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