sexta-feira, 9 de maio de 2008

Novos paradigmas produtivos e as mudanças no perfil do trabalhador - PARTE II

MENEGASSO (1998) coloca que até meados da década de 1970, o emprego estava associado à estabilidade, previsibilidade e certeza; com as mudanças imprimidas pelos avanços tecnológicos, grande parte dos empregos migrou do setor secundário para o terciário. Segundo Brief e Nord[1] (citado por MORIN, 2001), o trabalho possui variados significados, mas diversos autores concordam que ele é uma atividade que tem um objetivo. Ele pode ser ou não associado com trocas econômicas ou conformado formalmente num emprego. Esse para MORIN (p. 12) trata-se da ocupação de uma pessoa, correspondendo ao conjunto de atividades remuneradas em um sistema organizado economicamente.

Fenômeno capitalista, o emprego não é necessariamente parte integrante da vida; entretanto, o trabalho é fator de extrema importância. Transformando e significando a natureza, o homem produz o necessário a sua existência através do trabalho (PIMENTA; KAWASHITA, 1991; FERRETTI, 1997; CODO, 2000; SOARES, 2002; COUTINHO, 2003). O trabalho tem um papel mediador entre os mundos subjetivo e objetivo para a construção da subjetividade na apreensão e significação da realidade concreta num processo dialético e sócio-histórico (FERRETTI, 1997; EHRLICH; CASTRO; SOARES, 2000). O qual o trabalho e as profissões são significados através de uma construção histórica (MYERS; JORDAAN, 1975; BOCK, 2002)– na história da humanidade e para cada indivíduo. Enfim, o trabalho constitui-se produção de bens – tanto materiais quanto simbólicos –, com um determinado fim, necessários a existência humana. O trabalho só existe em função do homem e para o homem (SOARES, 2002). Já o emprego designa uma atividade parte de um sistema organizado economicamente e na troca de força de trabalho por salário.

Começa uma nova era, na qual o emprego para a vida toda é uma raridade. As carreiras tornam-se não-lineares, e, às vezes, várias mudanças acontecerão na carreira, senão mudanças de carreiras. O indivíduo está se tornando o arquiteto responsável pelo desenvolvimento de suas habilidades. Diversos fatores concorrem para esse crescimento da ênfase no indivíduo (ILO, 2002): na economia atual, houve um deslocamento da importância das vantagens comparativas tradicionais para o capital intelectual e os recursos humanos; a educação passou da orientação dada pelo professor, da educação passiva, na qual era importante absorver informações, para uma modalidade cujo fator primordial é o desenvolvimento de habilidades que possibilitem a aprendizagem continuada tanto para a vida pessoal como para a profissional e que dê competências para o indivíduo saiba utilizar as informações adequadamente; as TICs, principalmente as baseadas em tecnologias de internet, oferecem grandes oportunidades para as pessoas.

O mercado de trabalho migrou de um paradigma baseado no emprego para um sustentado no conceito de empregabilidade, ou seja, um cenário no qual o trabalhador possui um conjunto de capacidades e características pessoais que levam a pessoa a conseguir empregar-se com mais facilidade que outras (SOARES, 2002). A concepção de formação técnica foi superada pela gestão da criatividade, do conhecimento e do potencial inovador do trabalhador. Logo, as experiências nos mais diferentes tipos de atividades também são levadas em consideração de forma extremamente positiva.

MAROCHI (2002) aponta um levantamento feito por Lima[2] sobre características exigidas do novo trabalhador sob influência do modelo toyotista. Abaixo seguem algumas delas como exemplo:
1) ser altamente competitivo e, ao mesmo tempo, altamente cooperativo;
2) ser muito individualista e, amo mesmo tempo, capaz de trabalhar em equipe;
3) capacidade para tomar iniciativa, mas também de se conformar completamente às regras ditadas pela organização;
4) flexibilidade e, ao mesmo tempo, perseverança e meticulosidade excessivo (perfeccionismo necessário à qualidade total);
5) capacidade de reagir rapidamente e de se adaptar às mudanças;
6) captar e adquirir continuamente novos conhecimentos em domínios variados;
7) ter o pensamento controlado, ou seja, pensar operatoriamente;
8) capacidade de autosuperação;
9) capacidade de comunicação, persuasão e de motivar a equipe.

Empresas de alta performance, que produzem produtos de alto valor agregado, precisam de trabalhadores autônomos, bem qualificados, criativos e de uma estruturação de trabalho baseada em equipes (ILO, 2002). A probabilidade de emprego está bastante atrelada ao acesso a educação que o indivíduo teve (tem) na sua formação. Entendemos, nesse sentido, não só anos de estudo, mas também a sua qualidade. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (ILO, 2002), a educação deve incluir o desenvolvimento de competências fundamentais para a Sociedade do Conhecimento: cidadania, habilidades sociais, capacidade para trabalhar em equipe, para identificar, analisar e resolver problemas, para aprender novas competências, “alfabetização” digital, ter ao menos uma noção de conhecimento científico e sobre tecnologia, habilidade para utilizar TICs, fluência verbal e competência para proteger a si mesmo e aos colegas no ambiente de trabalho contra doenças e riscos ocupacionais.

Os recursos humanos tornaram-se a vantagem comparativa (e estratégica) chave para o mercado internacional (WERTHEIN, 1999; NASCIMENTO, 2001; ILO, 2002; CARNOY, 2004). A gestão organizacional do conhecimento permite otimizar a produção e conceber novos produtos e serviços ao mercado consumidor. Devido ao deslocamento da importância nas vantagens comparativas tradicionais para as estratégicas, a riqueza dos países, também, se deslocam para seus recursos humanos e para o desenvolvimento sustentado de tecnologia nacional. Segundo WEICHERT FILHO (2002), nesse ponto reside a necessidade da ampliação dos investimentos em educação – opinião compartilhada pela Organização Internacional do Trabalho (ILO, 2002) e pelo Banco Mundial (WORLD BANK, 1999a; WORLD BANK, 1999b).
A educação é um desafio, que, se for dominado, pode ser usado a favor da abertura de todo um campo de oportunidades de crescimento. O papel da educação na nova ordem que se estabeleceu no processo de globalização é de extrema importância para o futuro promissor tanto do trabalhador, quanto das organizações e das nações. A maior competitividade internacional demanda flexibilidade e capacidade de inovação das organizações e da força de trabalho. A economia se desloca para as atividades produtivas que se baseiam no conhecimento humano sofisticado (ILO, 2002; CARNOY, 2004; DRUCKER, 2004). Logo, pontuamos a necessidade de políticas públicas pertinentes com o novo cenário, visto que os ganhos potencialmente altos da produção e dos serviços que se fundamentam no capital intelectual. Emerge, então, uma nova sociedade, que, além de pós-industrial, se alicerça no saber humano, no capital intelectual, a Sociedade do Conhecimento.


[1] BRIEF, A. P., NORD, W. R. Meaning of occupational work. Toronto: Lexington Books, 1990.
[2] LIMA, M.E.A. Os equívocos da excelência: as novas formas de sedução na empresa. Petrópolis: Vozes, 1996.

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