quarta-feira, 16 de julho de 2008

Educação tem papel diferencial no mercado de trabalho

Com as transformações ocorridas no mundo do trabalho após a revolução tecnológica na década de 90, empregadores exigem melhor preparação da força de trabalho.

As profissões, a educação e a formação profissional mudaram ao longo da história, assim como, modificou-se o significado do trabalho. Brotam do mercado de trabalho um número incrível de novas profissões, outras se fundem, novas especializações para profissões tradicionais emergem do vasto oceano de transformações da virada do século. As exigências de mercado mudaram com as inovações tecnológicas, econômicas e sociais dos novos tempos, demandando um perfil diferente das profissões e dos trabalhadores. Sugiram ocupações e campos de trabalho inter e transdisciplinares, o teletrabalho e horários diferenciados e flexíveis. Trabalhar no século XXI definitivamente não é a mesma coisa do que se pensava duas décadas atrás.

Nos últimos 20 anos, o mundo do trabalho sofreu diversas transformações políticas, econômicas, sociais, tecnológicas e culturais que reverberam nos mais variados campos da atividade humana. Neste início de século XXI, toda a população, sobretudo os mais jovens, atravessa momentos de angústia em relação ao futuro. A instabilidade econômica, a falta de perspectivas, a substituição de postos de trabalho pela automação e o desemprego recorde são fantasmas que assustam cada vez mais a todos os brasileiros. Várias profissões extinguiram-se, outras foram criadas. O mercado de algumas profissões tradicionais encontra-se saturado nas regiões metropolitanas e nas grandes cidades, o que dificulta a inserção de novos profissionais. Novas profissões surgem e abrem novos postos e campos de trabalho, assim como observamos a revitalização de profissões já existentes.

A história da humanidade é atravessada por períodos de rápida transformação entremeados com lentos períodos de evolução e maturação dos modelos recém-estabelecidos. A humanidade transformou o mundo e a si mesma e passou por várias revoluções tecnológicas e sociais que só foram possíveis devido às condições estruturais de recursos naturais, sociais, culturais e tecnológicos disponíveis. O ritmo das mudanças e os efeitos do avanço tecnológico sobre a reestruturação produtiva cresceram exponencialmente nas últimas décadas. O ciclo de mudança que levava até trinta anos para acontecer, hoje se dá em pouco mais de seis meses. As mudanças são bastante visíveis e ocorrem também nos ambientes de trabalho. O armazém e as mercearias se transformaram em hipermercado, a farmácia em drugstore, as lojinhas da esquina em grandes shopping centers, o botequim em franchises de fast-food, o sítio e a fazenda tornaram-se empresas agrícolas.


O aumento da informação disponível nos últimos vinte anos reforçou a valorização do esforço intelectual e as profissões requerem formação cada vez mais especializada, estruturada numa ampla e sólida base educacional. Atualmente o maior recurso da humanidade é o próprio recurso humano desdobrado em capital intelectual. As mudanças velozes das inovações tecnológicas e produção de conhecimento cada vez em maior quantidade tornam o capital intelectual importantíssimo. O aumento do nível de conhecimento e a otimização de seu uso são as transformações essenciais que desencadearam a terceira revolução industrial. Na nova Sociedade do Conhecimento, podemos grosseiramente dizer que o trabalhador deixou de ser hardware para se tornar software.

Assim, as mudanças no mundo do trabalho exigem transformações no sistema de ensino, na política e na economia. As exigências do mercado de trabalho de capacidade para ser criativo, para lidar o com o novo, o inesperado, o imprevisível, para trabalhar em equipes e atualizar-se constantemente, para julgar, discernir, intervir, propor soluções e resolver problemas, vão de encontro à escola brasileira atual. Ainda impregnada de práticas tradicionais para um sistema de produção taylorista-fordista, a educação dos jovens os prepara para um sistema produtivo que não faz mais parte da realidade globalizada.

A globalização trouxe consigo mudanças tecnológicas e no mercado financeiro, a emergência do mercado internacionalizado, competição internacional, novas estratégias de negócios e novas formas de racionalizar a produção através de novas práticas de gestão, e o aumento de investimento estrangeiro direto nos mercados nacionais. É prudente observar as mudanças com um olhar crítico, já que oferecem aos trabalhadores, organizações e países tanto oportunidades quanto desafios para os quais devem se adaptar.

Podemos destacar três mudanças principais no setor produtivo: reestruturação produtiva e substituição do modelo fordista-taylorista por novos desenhos conceituais e operacionais e processos produtivos mais sistêmicos e integrados. A estrutura hierárquica das organizações tornam-se mais planas, agregando a participação de todos os trabalhadores e “distribuindo” a inteligência com as ICTs (Tecnologias de comunicação e informação); necessidade de elevação continua da qualidade dos produtos e serviços devido a alta competitividade; demanda maior pela capacidade de adaptação a mercados em constante mutação.

As vantagens comparativas tradicionais entre países, tais como tamanho geográfico, abundância de matéria prima e recursos naturais, mão-de-obra abundante e barata, cedem lugar às vantagens comparativas estratégicas – o capital intelectual, a capacidade de processamento da informação e as telecomunicações (na forma de ICTs) – aplicados às atividades humanas. Em alguns casos, os recursos naturais tornaram-se uma verdadeira “maldição” e sua má utilização a favor do crescimento chegou até a atrapalhar o desenvolvimento de países em momentos específicos.

Os recursos humanos tornaram-se a vantagem comparativa chave para o mercado internacional. Devido ao deslocamento da importância nas vantagens comparativas tradicionais para as estratégicas, a riqueza dos países, também, se deslocam para seus recursos humanos e para o desenvolvimento sustentado de tecnologia nacional. Nesse ponto reside a necessidade da ampliação dos investimentos em educação – opinião compartilhada pela Organização Internacional do Trabalho, pelo Banco Mundial e alguns pesquisadores.


A educação é um desafio, que, se for dominado, pode ser usado a favor da abertura de todo um campo de oportunidades de crescimento. O papel da educação na nova ordem que se estabeleceu no processo de globalização é de extrema importância para o futuro promissor tanto do trabalhador, quanto das organizações e das nações. A maior competitividade internacional demanda flexibilidade e capacidade de inovação das organizações e da força de trabalho. A economia se desloca para as atividades produtivas que se baseiam no conhecimento humano sofisticado. Nesse sentido, a necessidade da políticas públicas pertinentes com o novo cenário deve ser pontuada, visto que os ganhos potencialmente altos da produção e dos serviços que se fundamentam no capital intelectual. Pois, emerge uma nova sociedade, que, além de pós-industrial, se alicerça no saber humano, no capital intelectual, a Sociedade do Conhecimento.



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