sexta-feira, 18 de abril de 2008

Profissionais qualificados: futuro artigo de luxo?

Esse é o título da matéria publicada na Brazilian Business, revista da Câmara de Comércio Amaricana para o Brasil, em sua edição de março de 2008. Nela, Lairton Corrêa, gerente de Recursos Humanos da Petrobras fala sobre o grande desafio para os departamentos de Recursos Humanos em todo o Brasil. Basicamente existem três gargalos em nosso país para o problema em questão: a distribuição desigual de profissionais pelo país; o nível de qualificação dos profissionais disponíveis no mercado; e, a concorrência global por profissionais de ponta.


As grandes metrópoles ainda constituem local de convergência de profissionais. Muitas pessoas migram do interior para as capitais a procura de educação de qualidade e quando formados, esses profissionais não retornam ou demoram para retornar às cidades de origem. Muitas regiões sofrem de um mal oposto ao das capitais, falta mão-de-obra qualifica e as vagas demoram a ser preenchidas. E qual seria o motivo de tanta dificuldade de se levar jovens qualificados e profissionais gabaritados para as cidades de médio porte Brasil a dentro? Apesar do crescimento das cidades medianas no país, as grandes metrópoles oferecem a possibilidade de manter-se atualizado através da participação em curso e em congressos, bem como certa esperança em se conseguir um emprego numa empresa de maior porte. Devemos nos lembrar que quando se trata de jovens profissionais, ariscar uma mudança para outra cidade, principalmente de interior, nem sempre é bem vista no meio social. Às vezes, morar na casa dos pais e manter seu estilo de vida e, agora, com um adicional financeiro é bem mais viável e atrativo. Uma solução pertinente é a criação de centro universitários no interior e exigir que profissionais de alta demanda (profissionais da área de saúde, educação e infraestrutura) que estudarem em universidades públicas paguem pelos estudos logo após sua formatura em "estágios" nos quais poderão utilizar do seu conhecimento para solucionar diversos problemas das populações que hoje são desprovidas de serviços básicos e condições de vida adequadas. Tal programa mataria três cobras com uma única paulada: acabar com o desemprego de jovens recém-formados, oferecer serviços necessários à população carente e dar oportunidade de agregar experiência para tais profissionais.


O governo tem feito o dever de casa no que tange a educação em nosso país. Dispomos hoje de números graudos nas estatísticas referentes ao sistema educacional brasileiro. Entretanto, são mais números do que qualidade. O acesso à educação fundamental certamente melhorou e muito, porém, existem muitas escolas, se é que podemos chamá-las assim, como aquela casa da canção de Vinícius de Moraes.


Outro grande problema é a queda na porcentagem da população que consegue finalizar o ensino médio. Muitos jovens precisam entrar no mercado de trabalho para ajudar com as contas em casa e fica difícil continuar os estudos com a dupla jornada trabalho-escola. O ensino técnico ficou durante anos sem investimentos tanto financeiros quanto motivacionais. Os jovens criarão uma ilusão de que um diploma universitário seria a solução para sua dificuldade de se inserir no mercado de trabalho. Que pena!... Hoje dispomos de um batalhão de profissionais com qualificação duvidosa sem eira nem beira. E o parque industrial de nosso querido Brasil precisando urgentemente de técnicos para alavancar nosso crescimento, como denuncia a reportagem da Revista Época. Sim, vários postos de trabalho formal são criados... Mas em que condições?



A terceira questão é a fuga de cérebros. Profissionais de ponta são levados para outros países porque não conseguem encontrar trabalho a sua altura no país. Esse movimento de exportação de conhecimento é prejudicial ao pais, visto que tais profissionais poderiam ser empregados em projetos importantes aqui no Brasil. É importante frisar que as vagas criadas e tão divulgadas pelo governo geralmente são aquelas de baixa remuneração e precárias condições de trabalho. Nosso país com sua história de imigração, tem passado por momentos de emigração. Exportamos nossos melhores profissionais e importamos tecnologia que poderia ser criada aqui no Brasil. Triste realidade que deve ser revertida com urgência.
Se você quiser saber mais sobre desemprego estrutural e fuga de cérebros, recomendo o capítulo de Marcio Pochmann em Direitos Humanos no Brasil 2006, relatório da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos.
Quem ganha com a globalização? Boa (e já antiga) pergunta. Acho que todos podemos ganhar, desde que criemos uma perspectiva ganha-ganha. Pense um pouco mais sobre isso.

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