quarta-feira, 6 de maio de 2009

Cotas... pra que? pra quem?


Você vai fazer Vestibular esse ano? Meus pêsames... Você terá de enfrentar todos os candidatos e o governo federal para conseguir uma vaga no ensino superior público. O governo tem estudado junto às instituições federais de ensino superior a possibilidade de extender o sistema de cotas já vigente.

Com isso, cada Universidade Federal ou CEFET (para os cursos de superiores) terão de adotar um sistema de reserva de vagas para a população de etnias com origem africana, indígena e de escolas públicas. Essa reserva funcionaria da seguinte forma: as instituições separam as vagas de acordo com o percentual da população total que se enquadra nas parcelas da população acima.

Complicado? Descomplico - pelo menos na parte teórica... Se um estado tem 10% da população com origem indígena, por exemplo, 10% das vagas devem ser destinadas para esta população em específico.

O discurso por traz de algumas ONGs que mais parecem partidos políticos e estão fazendo uma grande força de lobby sobre o governo é que o país deve reparar à população desfavorecida através do acesso ao ensino superior. Como se ter um diploma de ensino superior fosse uma saída para a pobreza, um estímulo para o mercado de trabalho, criação de novos líderes e trabalhadores de ponta para tirar nosso país da miséria.

Uma pena tentar reproduzir em nosso querido país fórmulas já deterioradas e defasadas de outras nações. Nossa história de imigração e escravidão é única e não podemos nos basear em movimentos sociais alheios para reformular nossa própria sociedade.

É uma vergonha e um retrocesso criarmos cotas étnicas e para alunos de escolas públicas. Nós, um país de mestiços, com uma história de imigração plural, migração entre todas as regiões, fazermos algo de tal como aqueles que muito estudaram e não poderão ocupar sua merecida cadeira no ensino superior público.

Sim... peço que você pare e respire fundo. Sei que o governo deveria realmente investir na educação pública de base (leia-se ensino infantil, fundamental e médio) e viabilizar uma matriz ocupacional para que possamos crescer de forma sustentável.

Hoje temos um abismo entre o ensino médio e o superior: o ensino técnico. Nosso parque produtivo demanda por profissionais técnicos com formação adequada e que se atualizem constantemente. E muitos de nossos jovens pulam essa etapa, indo direto para o ensino superior. Quando penso nisso, me vem aquele sonho de alcançar status, de querer ser "doutor".

O mundo mudou muito nos últimos anos, e diploma universitário não garante emprego a ninguém, nem uma formação decente para ingressar no mercado de trabalho com diferencial. Por que será que nós, brasileiros, insistimos no sonho furado de fazer um curso superior, quando a necessidade de nosso país atualmente é por técnicos?

E vimos por aí, um tanto de gente ocupando cargos técnicos em empresas - todos com curso superior. Um absurdo da distorção de nosso sistema educacional e das políticas públicas populistas.

Se para alcançar um lugar ao sol e vencer no mundo do trabalho existisse a necessidade de ter curso superior, nem nosso presidente estaria onde está. Afinal, ele tem apenas um curso de torneiro mecânico e é um brilhante articulador político.

Por que nossos jovens continuam querendo entrar em universidades públicas sucateadas ou pagar caro por cursos particulares de péssima qualidade? Ainda por cima, sem garantias de que isso se reverterá em melhoria na sua qualidade de vida, seja financeiramente, seja culturalmente, seja como for.

É incrível em um país como o Brasil se pensar em retroceder e discutirmos questões raciais. Raça é um conceito falido. Não existe. Entendo que o preconceito é explícito em alguns casos, velado em outros, mas devemos reconhecer que somos mestiços, misturados de todas as cores, todos amores e todas culturas. Talvez, e eu tenho minhas dúvidas, uma pequeníssima parte da população de elite econômica e uma pequeníssima parte de população na outra ponta da situação sejam composta por indivíduos com pouca ou nenhuma mestiçagem.

Se nós pensarmos apenas nos descendentes de portugueses teremos de reconhecer que eles são mestiços. O problema é que essas ONGs que teoricamente defendem os direitos dos "marginalizados", desconhecem a próprio história de nosso país, de Portugal e da África.

Quer saber um pouco mais? Dê um pulo no múseu da língua portuguesa na Estação da Luz em São Paulo. Lá você vai aprender que Portugal foi invadida por mouros (povos do norte da África), mulçumanos, árabes, romanos, bárbaros escandinavos, entre outros. Os escravos que vieram para cá também possuem uma história anterior de miscigenação prévia lá no continente africano. Enfim, poderíamos ficar aqui discutindo quase que infinitamente sobre os movimentos migratórios nos continentes e as miscigenações para defender a tese de que somos misturados e pronto.

E quem disse que só os escravos africanos sofreram em terras brasileiras!?... e os imigrantes europeus que passaram fome e foram alocados no meio do nada, num mato sem cachorro e largados pelo governo no século XIX e início do XX.

Então me vem à cabeça outra pergunta... Pra que esses "defensores dos fracos e oprimidos" querem fazer políticas de afirmação étnica à maneira americana? Será isso um jeitinho brasileiro de crescer politicamente e ganhar mais farinha para o próprio pirão?

Se a vontade for sincera de mudar o país, vamos todos às ruas bradar com faixas e placas nas mãos por ensino de qualidade, por infraestrutura melhor para a população das periferias e aglomerados populacionais, por um sistema de saúde que funcione e seja único e universal, fazer os impostos que pagamos valer a pena.

Querer implantar cotas é ser cego aos alunos que terminam o ensino médio e são analfabetos funcionais, aos alunos que vão à escola balançando em carroceiria de caminhão, que passam fome, que não possuem carteiras ou lousa (sala de aula??? isso é luxo em algumas regiões!).

Quando seremos um país sério, sem politicagens populistas, sem espertos querendo furar a fila, sem ignorantes que defendem ideais que mal conhecem.

O Brasil não é perfeito, mas também não precisamos estragá-lo. Incentivar o sistema de cotas é criar segragação, racismo e conflitos sociais. É retroceder em todos os ganhos dos últimos anos. É querer dizer que alguém tem mais direito que outros, ferir nossa Constituição, cuspir para cima na própria cabeça.

Uma pena... já não sei se posso cantar aquela puxada de torcida que ficou famosa em Copas passadas... Eu sou brasileiro, mas se as cotas continuarem, não sei se serei brasileiro com tanto orgulho mais, não sei se o amor sobreviverá.

Às vezes acho que quem tem olhos azuis é nosso presidente... Lula nega sua própria saga de vitórias pessoais com suas atitudes. Agora que ele é o cara e o sucesso lhe subiu à cabeça, nosso Brasil vai voltar à época de colônia e quem for contrário ao governo, será castigado em praça pública com chibatadas.

Mas nem assim queria que meus olhos fossem azuis como os de Lula. Prefiro ser mestiço. Afinal, eu sou brasileiro.


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